«A Igreja é o lugar para todos… Todos, todos, todos!»., repetiu várias vezes o Papa Francisco ao meio milhão de jovens que o acolheram ontem no Parque Eduardo VII em Lisboa. Um Papa que apareceu rejuvenescido e revigorado pelo contágio de entusiasmo dos jovens que, juntamente com os seus pastores e educadores, chegaram a Portugal vindos de todas as partes do mundo. “Para todos, para todos”, disse com veemência Francisco. É uma mensagem que pode representar quase uma síntese destes primeiros dez anos de pontificado. Um pontificado que se abriu no sinal da misericórdia.
O que significa reafirmar que há espaço para todos na Igreja? Disse Francisco: “Ninguém é inútil, ninguém é supérfluo, há espaço para todos. Assim como somos, todos… “Padre, mas eu sou um desgraçado, sou uma desgraçada: há lugar para mim?”: há lugar para todos». Porque «Deus nos ama, Deus nos ama como somos, não como gostaríamos de ser ou como a sociedade gostaria que fôssemos: como somos. Ele nos ama com os defeitos que temos, com as limitações que temos e com o desejo que temos de seguir em frente na vida. Deus nos chama assim: tenham confiança porque Deus é pai, e é um pai que nos ama, um pai que nos quer bem».
Em um tempo em que todos comentam e ninguém escuta, em uma época em que tantos procuram aparentar o que não são, não há mensagem mais atraente e revolucionária: Alguém nos ama assim como somos, perdoa-nos sempre, está ali à espera de braços abertos, vai à nossa frente disposto a nos cobrir de misericórdia. É a lógica nada humana e inteiramente divina que aprendemos com o episódio do Evangelho de Zaqueu, o pecador publicano mal visto por todos na cidade de Jericó que, curioso em relação ao profeta nazareno, sobe em um sicômoro e meio escondido entre as folhas o espera passar. Mas é Jesus a olhar primeiro para ele, ama-o primeiro, se auto-convida para ir a sua casa, independentemente dos comentários escandalizados dos presentes. Não há condições prévias para encontrar o abraço misericordioso de Jesus, não há “instruções” a serem colocadas em prática, nem cursos de preparação a frequentar, nem técnicas a aprender. Basta estar ali quando ele passa, render-se ao seu olhar cheio de amor e misericórdia. Basta deixar cair as barreiras e permitir que ele nos abrace, reconhecendo-o no rosto das testemunhas que Ele coloca no nosso caminho todos os dias.
Na Igreja há lugar para todos, assim como houve lugar para o publicano Zaqueu que teve o privilégio de receber o Nazareno na própria casa, a sua mesa. Uma surpresa sem precedentes, uma dádiva gratuita, acontecida por pura graça. Aquele olhar, aquele chamado mexeram com a vida do publicano de Jericó: precisamente porque foi amado como nunca na sua vida, pode compreender quanto pecado e quanta corrupção estavam incrustados em sua existência. Mas a conversão para Zaqueu não foi o pré-requisito indispensável para ser amado e perdoado. A dinâmica é outra: precisamente porque se sentiu pela primeira vez acolhido, amado e perdoado, pode dar-se conta do seu pecado e da sua corrupção. Fazer experiência da misericórdia divina o tornou consciente de ser um pobre pecador.
O convite entre os jovens que repetiu o Papa “jovem”, contagiado por seu entusiasmo, é a chave para a evangelização hoje. De fato, do que mais precisamos senão de Alguém que nos aceite como somos, fazendo-nos sentir esperados, desejados, amados e perdoados? O que mais precisamos senão que nos digam: há espaço também para ti, seja qual for a tua condição?
Fonte: Vatican News